O software livre não deve censurar

Se escreveres software livre, não negues a liberdade zero.

Qualquer software é livre, se conceder aos utilizadores as quatro liberdades essenciais:

• liberdade 0: A liberdade de executar o programa como desejar, para qualquer finalidade.
• liberdade 1: A liberdade de estudar como o programa funciona, e de o alterar para que faça a sua computação como desejar.
• liberdade 2: A liberdade de redistribuir cópias para que possa ajudar os outros.
• liberdade 3: A liberdade de distribuir cópias das suas versões modificadas a outros.

Negar qualquer uma destas liberdades torna o teu software não livre. Acontece que alguns mantenedores de projectos de software livre pensam que não há problema em impor as suas posições políticas/ideológicas sobre quem pode utilizar o seu software, e para que fim pode ser utilizado. Eles estão a violar a liberdade zero para avançar com as suas agendas políticas. Aqui estão alguns exemplos.

Caso um: Clientes de Mastodon

Tusky, Fedilab Amaroq, Mastalab e Mastodome são softwares livres (GPL 3.0), são clientes de Android para o fediverse - tematicamente, Mastodon. Eles fazem Rick Roll utilizadores que tentam ligar-se a domínios com as quais não concordam. Não se pode decidir pelos seus utilizadores! E a ironia aqui é que estes clientes são para se conectarem a uma rede supostamente resistente à censura. Isto é uma violação da liberdade zero.

E com tudo isto curiosamente, em 2021 o Tusky foi removido da Play Store por servir "conteúdo censurável".

Eles [Google] não parecem compreender que se pode ver qualquer conteúdo com o Tusky e que não é possível para os criadores de aplicações verificar qualquer um deles.
— Conny Duck

Bem, agora já não é uma boa ideia quando alguém decide as coisas por ti, não é? Não vamos imitiar os gigantes de tecnologia e vamos continuar a manter leal às 4 liberdades.

Caso dois: Lemmy

Também uma aplicação do fediverse - um clone Reddit federado (AGPL 3.0). Têm um filtro de insultos fortemente codificado que se recusam a remover, ou no mínimo, a tornar configurável. Isto é apenas uma má engenharia para o bem da política pessoal dos desenvolvedores.

Ambos os programas são lançados sob licenças de software livre, e são claramente não livres. Não façam isto - não beneficia ninguém. Provavelmente sentes que estás "a fazer uma mudança", mas aqui vai uma chamada à realidade: não estás. É meramente sinal de virtude. Não imponhas as tuas agendas políticas aos teus utilizadores, porque não gostarias que o lado oposto te fizesse também.

Caso três: F-Droid

O F-Droid é uma aplicação alternativa à Play Store da Google (GPL 3.0). Funciona um pouco como a gestão de pacotes do debian com repositórios. Nem todos sabem adicionar repositórios extras à loja. Por isso, qualquer remoção de aplicações fora do repositório principal fica de mais difícil acesso ao utilizador comum.

Em 2019, o F-Droid decidiu remover o Spinster, um site feminista feito com base em Mastodon (AGPL 3.0) na altura. A razão disso foi por ter atraído muita controvérsia devido ao facto de permitir uma vasta gama de discussões em torno do género, sexo, e identidade de género. A criação da App do Spinster foi feita devido a problemas do caso um.

A preocupação é que a Spinster permite utilizadores dizerem coisas como "as mulheres trans não são mulheres", embora não concorde com a afirmação estão na liberdade de o debater. Entretanto, as pessoas depois ficaram a espalhar mentiras que os utilizadores da Spinster queriam matar ou prejudicar de outra forma pessoas trans. Acusações completamente falsas, e elas próprias destinam-se a incitar ódio contra os utilizadores da Spinster.

Conclusão

Esta tendência de atacar e mentir é muito ativa e muito preocupante na comunidade FOSS - permitindo-nos estar divididos sobre questões ideológicas. É muito conveniente para os ricos e poderosos que assim seja, pois desresponsabiliza a comunidade FOSS e dá poder a corporações como o Facebook e o Twitter.

A censura é má para todos, e normalmente nunca acaba bem. Não há forma "correcta" de censurar - por isso nem sequer tentem! Se não quiser que o seu software seja "mal utilizado", liberte-o sob uma licença capaz de o fazer cumprir. (Honestamente, existem licenças éticas, mas estão praticamente mortas.)